A: Vocês lançaram o primeiro
álbum há alguns meses. Antes disso, há quanto tempo já existia a banda e
quando se deram conta de que podiam escrever músicas próprias?
Girlie Hell - A banda
existe desde 2008, ano que foi lançado nosso primeiro EP com músicas
autorais. Desde o começo nos focamos em escrever nossas próprias
músicas. Já apresentamos covers em alguns shows, mas apenas por
diversão. Covers nunca foram mais do que 10% do nosso show.
CA: Quando vocês começaram a tocar e se interessar pelo rock? Podem contar um pouco do começo de sua experiência com a música?
Girlie Hell - Cada
integrante começou a se interessar em momentos diferentes. A Fernanda,
baixista, foi a que entrou no rock primeiro, passou por várias bandas,
eventos, festivais, etc. A Júlia e a Bullas começaram novas, passaram a
adolescência frequentando festivais de rock e tiveram algumas banda
antes de entrar na GH. Antes de entrarem pra GH elas tocavam juntas em
uma outra banda. A Bullas já se aventurou em todo tipo de banda e já
trabalhou como produtora de eventos. A Carol, baterista, começou por
último, em 2006, já montando a GH com outras integrantes. É a única
remanescente do “the very beginning” da banda.
CA: Foi difícil formar uma banda
só de mulheres em Goiânia? Como descrevem a cena rock local comparada
às de outras capitais que já puderam conhecer?
Girlie Hell - Na
verdade não foi muito difícil não… Mas foi bem inusitado. A Carol, por
exemplo, foi “achada” pela antiga vocalista no site “Forme sua banda”
(do portal Terra)! Fora ela, todas as integrantes já se conheciam, eram
amigas do rock.
Goiânia é a capital do rock! Goiânia
Rock City é como ela é conhecida Brasil afora pelos que acompanham a
cena do rock nacional. O maior selo alternativo do Brasil, a Monstro
Discos, é de Goiânia. O maior festival de música independente é nosso
também, o Goiânia Noise Festival – que chegou a sua 18° edição em 2012-,
um dos maiores nomes do empreendedorismo da cultura, Fabrício Nobre, é
nosso conterrâneo… Todas as bandas de outras cidades que conhecemos que
já passaram por Goiânia dizem que o público mais animado está aqui
também. Sobre o público, o que posso dizer é que os goianos tem sede de
coisa nova. Se vem uma banda desconhecida tocar aqui, pode ter certeza
que a “galera do rock” vai atrás de sites e vídeos no YouTube pra sacar o
som. Aqui é demais! Mas aqui também tem muita banda nascendo e morrendo
o tempo todo. E tem muita coisa boa. Pra agradar o público aqui, tem
que produzir música própria e ter um show de qualidade.
CA: Eu já conhecia a Monstro
Discos de longa data, mas confesso que não sabia que era de Goiânia.
Isso é para a gente ver o quanto falta conhecimento e comunicação sobre o
cenário musical nosso próprio país. Goiás é conhecido pelo sertanejo, a
Bahia pelo axé, e agora o Pará pelo technobrega, mas em todos esses
lugares existe uma cena de rock e música alternativa. Vocês acham que
ainda existe espaço para o rock nacional na mídia hoje em dia ou virou
algo restrito ao underground e à Internet?
Girlie Hell -
O rock reconquistou seu espaço e gerou novos fãs com a ascensão da
internet. É através dela que ele sobrevive. Se ele vai sair dela ou não
depende do rumo que as coisas vão tomar. O público da internet
praticamente ultrapassa o número de telespectadores, portanto ela pode
sim trazer uma reviravolta para o mundo da música. As novas gerações
nascem conectadas e estão se mostrando consumidoras de rock. Talvez o
mercado tenha que se readaptar pra atender esse mercado. Aqui em
Goiânia, pelo menos, isso já está se tornando realidade. Já abriram mais
duas casas de rock esse ano e dois bares que eram de outros segmentos
se adaptaram e reinventaram para receber o público rock, mesmo que para
shows de cover. Já é um começo, mostra que estamos avançando.
CA: Qual a relação de vocês com outras bandas de rock locais, como a conhecida Black Drawing Chalks?
Girlie Hell - Aqui todo
mundo se conhece e costuma frequentar os mesmos bares e eventos. O
Vitor do BDC já tatuou a Carol (aliás, ele e o Douglas foram veteranos
de faculdade dela e da Bullas), o Rodrigo do Hellbenders é nosso amigo,
toda a galera do MUGO, do Jhonny Suxxx And The Fucking Boys e do Cherry
Devil são nossos amigos, adoramos a galera do Kamura (O “Japão” foi um
dos primeiros caras do rock que acreditou no nosso trabalho), os
rockeiros do Mechanichs são parceiros também… E deve – com certeza – ter
alguns nomes que esquecemos de citar aqui.
CA: Quais suas influências? Fora isso, costumam ouvir outras bandas e artistas que não tem muito a ver com o estilo de vocês?
Girlie Hell - Ah, o que
mais ouvimos são outros estilos musicais! Temos referências bem
ecléticas. Entre as bandas que são mais ou menos do mesmo estilo, tem
Kittie, L7, Girlschool, Deftones, Crucified Barbara, Pantera, AC/DC,
Kiss, Danko Jones e outros. Quando viajamos tem aquelas coisas “nada a
ver” que sempre tocam, como os sambinhas da Júlia, a Adele da Fernanda,
os eletrorocks da Bullas, e os raps e black music da Carol… E tem
aquelas outras coisas que todo mundo ouve, como Foo Fighters, Red Fang,
Slipknot, No Doubt, Black Keys, QOTSA, Rolling Stones, Sublime… Quem tá
na música escuta muita coisa o tempo todo, né.
CA: Falando nisso, como vocês
definem o seu estilo? E para as próximas composições, buscam manter a
mesma linha ou estão planejando algumas novidades no som?
Girlie Hell - O “Get
Hard!” foi um momento de transição da banda, entre o hard rock farofa,
que tocávamos na primeira formação, e a fase mais metal da banda. Pra
2013 já temos um trabalho encaminhado pra ser lançado. O novo set vai
passar por metal, stoner rock e um rock’n roll mais clásico, com um
fundinho de um hard rock mais moderno. Mas definir a banda mesmo é
difícil. Dizemos por aí que é um hard metal, mas na verdade é uma grande
mistura.
CA: Podem falar um pouco mais
dessa primeira fase da banda? Vocês comentaram também que tinham outra
vocalista. Qual era a cara da Girlie Hell nessa época e onde foram parar
essas composições dessa época mais “farofa”?
Girlie Hell - A Girlie
Hell tinha inicialmente cinco integrantes, com Sarah Bastos no vocal e
Lola Vieira no baixo. Tocávamos um hard rock mais cru, tínhamos um
visual mais hard rock, as roupas e tudo mais. Gravamos um EP chamado
“Shake You Ass” em 2008, já com a Júlia e a Bullas nas guitarras, que
ajudou a lançar a banda. Deve ter coisas dessa época espalhadas por aí,
só não sei onde! As letras eram mais divertidas, invertiam os valores
populares, eram irônicas e colocavam o homem como objeto em uma relação
(ironizando principalmente as músicas sertanejas que colocam a mulher
como ‘descartável’), o ritmo era mais dançante, com cara de hard rock
mesmo. Logo depois, entre 2009 e 2010 (não me lembro ao certo quando) a
Lola saiu e entrou a Fernanda e em pouco tempo a Sarah teve que sair por
questões pessoais e aí continuamos a banda com a Bullas assumindo os
vocais. Essas mudanças somadas ao tempo de banda e amadurecimento das
integrantes mudaram naturalmente o rumo e o estilo da banda.
CA: Como foi para vocês abrir para o Crucified Barbara na mini-turnê? Chegaram a ter algum contato com as garotas da banda?
Girlie Hell - Foi muito
legal tocar ao lado de uma das bandas a qual mais nos assemelhamos na
atualidade. Tivemos pouco contato com elas devido à super protreção da
produção. Quem teve mais contato foi a Carol, que trabalhou no palco
pra elas no Noise. Elas foram super simpáticas, disseram que gostaram de
saber e conhecer bandas de mulheres brasileiras e assistiram aos nossos
shows – e a reação foi a melhor possível!
CA: Voltando a falar sobre o
álbum, vi que praticamente todas da banda participaram de alguma forma
na autoria das músicas. Podem contar um pouco sobre o papel de cada uma
nas composições?
Girlie Hell – Na
GH temos uma liberdade de levarmos composições pro estúdio e também pra
palpitar na composição da outra. Grande parte das melodias são da
Bullas, junto com os solos e as linhas de vocal. Mas tem as letras de
Fire e Shadows, por exemplo, que são da Fernanda e as de Black Dreams e
de Mama’s Doll são da Kaju. A Carol cuida composição de todas as bateras
e escreveu a letra de Struggle.
CA: Quanto às letras, vocês tem uma “letrista oficial”? Do que buscam falar?
Girlie Hell - Como
dissemos anteriormente, todo mundo compõe tudo, mas a Carol tem,
aparentemente, uma facilidade maior pra escrever. Então se falta estrofe
ou coisa assim, quem costuma escrever é ela. Mas no fim, o toque final é
de quem canta, pra ver se casa com a melodia e pra corrigir a métrica.
Falamos basicamente sobre experiências
que vivemos. Frustrações, decepções, depressões, bebedeiras,
relacionamentos, festas… e muitas das letras novas falam sobre
experiências que a banda nos proporcionou, principalmente letras de
motivação, sobre não desistir. Parte delas já entrou no setlist do final
de 2012 e estará presente em 2013.
CA: O encarte do álbum me parece
ter sido inspirado no visual das HQs/filme Sin City, do Frank Miller.
Seria isso mesmo? Isso se encaixa de alguma forma no conceito do álbum?
Girlie Hell - Tem sim.
E um “quezinho” do “A Prova De Morte” do Tarantino também. Fizemos
umas fotos com um Dodge pra promo da banda de 2011 e pensamos em usá-las
no encarte do cd. Mas como só tem designer e publicitária na banda, na
hora de decidir foi um turbilhão de idéias. Então chamamos o Vitor
Mendes para ilustrar o encarte baseado nas fotos. Adoramos o resultado! E
vem mais arte do nosso parceiro por aí. O cara é foda!
CA: Mais referências cinematográficas dessa vez? O que estão planejando?
Girlie Hell - Dessa vez
as referências vêm menos das telonas e mais de clipes mesmo. E foram
muitas as referências usadas para nosso próximo trabalho. Até a Madonna
entrou nessa lista!
CA: Ainda falando do
lance cinematográfico, vocês lançaram há alguns meses o clipe de FIRE. A
produção foi da própria baixista da banda, certo? Qual era a ideia por
trás do clipe e por que escolheram essa música?
Girlie Hell -
Escolhemos essa música porque achamos que ela marcaria bem a nova fase
da banda e chamaria a atenção por ser algo completamente diferente do
que estávamos fazendo. Sobre o clipe, a Fernanda diz que Fire é uma
música perturbadora, que fala de uma pessoa totalmente perdida e que,
por alguém, está vivendo com a mente e o corpo em chamas.
O clipe põe em evidência este lado
perturbador, vagando entre o passado e o presente de uma senhora, que
desde criança viveu sozinha em um ambiente deprimente, rodeada por
máquinas de costura, onde uma bizarra boneca era sua estranha companhia
e manequins sua única família. Fator que a levou a viver em constante
crise existencial.
CA: Uma curiosidade: Bullas Attekita é um nome um pouco peculiar. É um nome artístico ou sua família vem de algum país específico?
Girlie Hell -
Ah… Bullas Attekita vem do latim Burlamentus Attekitais… (Risos) Nada
disso! Brincadeira! Bullas é um apelido de infância que pegou. Com o
tempo, ela agregou o Attekita ao nome e praticamente virou o nome
próprio da nossa vocal. Muitos amigos nossos não sabem o “nome de
verdade” dela! E não vamos revelá-lo aqui… (Risos)
CA: Eu jurava que era um nome finlandês ou algo assim!
Girlie Hell - Já vamos trabalhar no sotaque da Bullas pra ver se ela engana! (Risos)
http://www.cinealerta.com.br/2012/12/25/alerta-sonoro-entrevista-girlie-hell/